segunda-feira, 13 de abril de 2009

Filhos do Trovão


“... Foi como se a poeira tivesse baixado no meio da roda.
Agora podíamos olhar-nos fundo nos olhos.
Éramos párias, pardos e pretos, esquálidos e obesos, selvagens de muito e de todo.
Sujos, suados, alguns de pés descalços a pisar ensangüentados em cacos de vidro quebrado.
Ansiosos seres a espreita de olhares que se cruzavam esperando um único brusco movimento desesperado.
Uma furiosa respiração contínua permeava.
Ao redor tudo girava em ignorada e trepidante desconformidade quando...

O som do trovão tocou.

Ressoante, caiu de forma monstruosamente estridente, fazendo sentir à dor do ranger das unhas nas cordas de metal.
Tornamo-nos, então, uma destorcida massa una de carne e ossos em constante agonia rotatória, donos incontestáveis de maxilares deslocados, dentes quebrados e rostos deformados.

Podíamos sorrir ao despejar feroz violência indiscriminada ao nosso bel prazer, pois estávamos com nossas faces cobertas pelo vel de nossa real natureza e pelos restos dos pedaços de sanidade que antes nos serviam de armadura...”