segunda-feira, 11 de agosto de 2008

No Banco de Trás do Carro

Morreu do meu lado, a bala saio por de traz da cabeça, pela nuca, um pouco acima da primeira vértebra da coluna e se perdeu no enchimento do banco do carro.

O buraco era enorme, quase um palmo de mão, aberta, tava aberta a cabeça dele, tinha fumaça saindo.

Buraco fundo, negro e vermelho, o sangue era grosso e escorria por todo o corpo, descendo devagar e viscoso.

Estourou e espirrou na minha cara, na minha boca, nos meus olhos, e na camisa inteira.

Dezenas, ou quem sabe centenas de segundos parado, estatizado, de olhos fechados e franzindo todos os músculos possíveis da testa.

Zunindo, só escuto o mundo zunir, falam, me dirigem palavras que não consigo distingui-las, mal concigo perceber o nome inpronunciável que escuto.

O grosso cheiro de sangue misturado com a pólvora que empreguinou aquele banco de traz de carro faziam minha mucosa nasal latejar de tanto doer.

Mais séculos de segundos paralisado e acabo por abrir os olhos, só estamos eu e o morto, estou só, vivo !

Sinto o peso do alívio de não ter que olhar mais aquele cano cromado apontar para o meio de meus olhos pela janela do carro.

Empurro, para tira-lo de cima de min, o meu ex-colega e o corpo dele debruça-se sem vida e bate com a cabeça na parte de traz do banco a sua frente.

A poça de sangue é grande e mela nossas calças misturando-se com minha urina no assoalho do banco.

Vomito de supetão, sinto o gosto dos meus sucos gástricos misturados com pedaços de pastel de queijo subindo por minha traquéia e jorrando por minha boca a fora.

Vomito em mim, vomito nele, vomito pra fora do carro, pela janela da direita, vomito muito e depois para.

Tento pensar, me mexo, quero sair dali, faço esforço para tirar meu corpo daquela situação, empurro a porta de mal-jeito, ela reluta mas cede e abre, saio, dou alguns passos, levo as mãos a cabeça por instinto.

Agacho pela porta e olho novamente pra a ferida que aquela magnum PT 40 fez na cabeça do meu ex-parceiro de tantas paradas, vejo a potência da ferida novamente.

Oh! Deus !

De costas pro carro, apoio as mãos nos joelhos, coloco a cabeça entre as pernas e vomito mais uma vez, quase me canso de vomitar, dessa vez só sai aquele liquido meio azedo e amarelado.

Bato a porta com ira, tento pensar no que acabou de acontecer, noto minha roupa suja de sangue misturado com vomito misturado com mijo, tenho nojo, tento limpar, não dá...

Solto um palavrão sem querer ao lembrar do nome que eles falaram;

Puta que pario!!!

me apresso, corro sem pensar... preciso avisar Três santos !!

domingo, 10 de agosto de 2008

25ªhora

Então é nessa hora que você se toca.
É nessa hora que você entende o porquê, o pra quê disso tudo.
Disso tudo que esta acontecendo a você e a todos ao seu redor.
O que mais poderia ser se não a divina providência novamente impondo sua vontade por sobre a de todos!
Mas acalma-te, pois o cheiro nauseante ainda não passou por tuas narinas e ainda faltam-lhe alguns muitos minutos de sobra para saber que es superior.
Para saber que es mais farto, que es mais fértil, que es mais bem aventurado.
Que teu lugar fica um pouquinho mais acima.
Lá e ali de onde podes olhar indiferente por sobre da multidão de desavisados.
Pois agora apressa-te amigo, que o tempo é breve e impiedoso.
Aspira o gosto.
Degusta o cheiro.
Aperta carnes e cabelos.
Ergue cabeça e queixo para sentir a brisa refrescante acariciar tua fronte como nem um mortal jamais poderia fazê-lo.
E desfruta, irmão em perecimento.
Não é isto que queres?
Não é dentro dos olhos do infinito que almejas olhar?
Então engole o sinuoso ar, o liquido salivado, o pedaço do pouco de dinivo e perfeito que há.
Contempla a beleza da tristeza insana que te estampa um enorme e irracional sorriso na face cansada.
E se Lágrimas começarem a escorrer-te no rosto?
Não as esconda.
Não segures o choro, pois ele é a prova de tua conquista, de tua vitória, de tua ascensão.
E é com ele que deves terminar... Por hoje... E sempre.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Mulher Negra

Hoje na volta da faculdade no ônibus de sempre onde geralmente durmo a viagem quase toda, tive a oportunidade de ver uma mulher, negra, na casa dos seus trinta a quarenta anos suponho, era difícil dizer, pois às vezes, quando as pessoas não são realmente mestiças, fica complicado definir qual a idade certa; E essa mulher me parecia ter um pedigree dos bons. Mas a razão que me forçou a escrever sobre ela não existiu somente por causa da cor de sua pele ou pelo fato de ela ser um quadro vivo da soma de todos os males sociais de nossa época. Existiu, no caso, por ela ter consigo e para até o fim da vida uma queimadura enorme, borradamente cicatrizada, que ia desde a batata da perna até o rosto, subindo pelo lado esquerdo do corpo. Logo quando pedi para senhora de óculos escuros que sentava-se bem atrás dela dar-me à licença para poder-me sentar no lado da janela, e no seguinte instante em que virou-se para me dar passagem eu parei e vi a cicatriz da queimadura no braço da preta. E lá fiquei uns três ou quatro segundos paralisado, na verdade, meio estatelado, realmente imóvel olhando-a, em pé e ali entre a senhora de óculos escuros que me dava à licença e a negra dona da tatuagem de fogo sentada de costas a minha frente. Ela levava consigo no colo uma sacola grande, dessas de atacadão, cheia de roupas presumi, não tenho certeza, também não consegui reparar. Quando notei que a senhora de óculos escuros esperava para voltar a sua posição normal e eu a estava empatando terminei de sentar com minha bolsa pesada.
Não consegui me conter e não demorei muito pra fingir que me apoiava destraído no encosto de ferro do banco da frente para poder ver melhor a cicatriz da mulher negra. Detive-me ali observando-a e a sua cicatriz durante algum tempo, demorei para notar que estava acompanhada de um garoto, preto também, nos seus sete a oito anos, bem bonito por sinal, provavelmente seu filho... Foi neste momento em que me vieram como numa torrente vários pensamentos em relação a essa mulher: pensei nas estatísticas a que possivelmente estava atrelada levando em consideração ser ela mulher, negra, pobre e como isso ja não bastace, ter ainda, aquela tamanha cicatriz, pensei nos atos de preconceito que deveria sofrer por diversos fatores, pensei também em como ela tinha ganhado aquela coisa, pensei no que deveria dizer para as pessoas que tivessem a coragem de perguntar, pensei em como se sentia ao olhar-se no espelho e logo minha criatividade bizarra fez o favor de mostrar-me como deveria ser. Pensei em algo que o estado pudesse fazer em relação a ela, em relação a sua auto-estima, pensei também em como seria se fosse em mim que aquela cicatriz estivesse estampada para quem quisesse ver, imaginei como seria sua vida se não tivesse ganho aquela horrível cicatriz, tenho certeza de que sua vida antes de te-la ganho era completamente diferente e pensei também o quão dura deve ter sido essa mudança. É hipocrisia dizer que quase pude sentir como seria ter aquilo em mim, pois, impossível é sentir e saber como outro qualquer.
Daí, deixei de olhar, e tentei realmente dormir um pouco, minha ressaca da noite passada não dava trégua naquela manhã e com o balanço ininterrupto do ônibus ajudando, apaguei. Algum tempo depois, quando acordo, a senhora de óculos escuros que apertava minha coxa direita com sua coxa esquerda não estava mais ao meu lado no banco, porem, a mulher negra, fugindo do sol, estava agora acomodada no banco a minha direita, do outro lado do ônibus, na sombra. Olhei novamente para seu braço queimado, não precisava mais me esforçar escondendo meu olhar, não sei como descrever minhas feições a olhá-la nesta hora, agora tinha como ver que a cicatriz era muito maior do que o pouco que já tinha visto.
A cicatriz vinha da panturrilha esquerda subindo por joelho e coxa, passando por debaixo de sua pouca roupa tomando conta do braço esquerdo inteiramente e a grande parte da sua face do mesmo lado. Não sei dizer se aquela queimadura era de terceiro grau, mas com certeza tinha cacife para tal. É um tanto difícil de descrevê-la, parecia como se ela, a mulher negra, não pudesse dobrar o braço, pois não havia pele suficiente para isso. A pele era demasiadamente escura e cruelmente enrugada. Era como se seu braço tivesse sido pintado com uma tinta preta fosca e essa tinta se endurecesse numa casca torta e maleável. Realmente uma coisa horrível de se ver.
Olhei um bom tempo, ela estava entretida com o garoto que lhe falava entusiasmadamente, parecia querer-lhe mostrar algo ou estava a pedir qualquer coisa, não sei dizer, nesse momento tive pena, não sou insensível nem hipócrita o suficiente para mentir, mas é bem verdade que não gosto de vivenciar esse tipo de sentimento, se pudesse não teria pena de ninguém, mas foge das minhas mãos fazer com que isso se torne realidade.

Olhei bem, as figuras da mulher e do menino sentados no banco do onibus, ambos escuros como a noite, feridos e maculados por um mundo que não sabe muito bem o que faz...

Tive sorte de ela não voltar sua atenção a mim, me sentiria um lixo se tivesse notado que estava a olhá-la com desdém, e também não queira que se sentisse mais uma vez constrangida por razão de sua imagem, pois então parei repentinamente de olhá-la e pensei nela. Mais uma vez imaginei no que ela gostaria que os outros concretizascem dela, tomei a decisão de que gostaria de ser tratada como uma pessoa normal, de aparência normal, dona de uma vida normal, com quem sabe, uma ou duas marcas de espinhas na cara.
Não olhei novamente por um bom tempo, minha viajem é longa, quase atravesso a cidade inteira para chegar da minha casa na faculdade e ela não descia, passamos pela marcenaria que fica na curva que liga meu bairro a rua principal da cidade onde moro e ela não desceu. Acabei por olhar de novo, olhei pra sua mão que segurava a sacola grande apoiada em seu colo. Notei que alguns dos dedos dessa sua mão estavam "comidos". O fogo, ou seja lá o que for que fez aquela cicatriz, deve ter tido tamanha força que queimou os seus dois últimos dedos da sua mão, e a cor deles era clara como carne.
Minha parada chegou e saltei na frente da padaria como sempre, ela seguiu no ônibus, deve ter decido na integração do terminal para pagar uma passagem a menos e ir aonde quer que fosse.
Quando cheguei em casa e comecei a escrever esse texto, lembrei de outra coisa.
Lembrei que realmente... Ela era linda.

I wanna be 50cent.

As vezes me pego sem saber responder meus porquês e isso me deixa bastante irritado, não saber qual a razão das coisas que faço é frustrante além de muito desgastante, mas ainda sim as faço... Meio sem vontade ou que nem uma mula de carga, as faço.
Procuro me manter suficientemente alienado infringindo-me finalidades temporárias ou perenes, paliativas ou perpétuas, contínuas ou finitas... Para suprir esse tipo de necessidade. No entanto, pensando bem, ouso dizer que a vida se resume a isso, de certa forma. Sempre vamo-nos dando objetivos a concretizar, sonhos a conquistar, países a subjugar, raças a dominar, planetas a colonizar, universos a criar para logo em seguida fazê-los apagar. Independente dos seus porquês e pra quês...

É, e lá vamos nós mais uma vez em busca dessa tão desejada felicidade...

Um engodo perigoso já me disseram; ei! Onde foi que colocaram as coisas certas a se fazer?
Tem certeza de que acertou na hora de escolher o que vai ser quando crescer?
O jeito é colocar o pôster do 2pac na parede e “fiiiiiu” decer.


Fico rico ou morro tentando!

Valhalla

Estou dançando na terra...
Estou dançando junto a irmãos de sangue e de alma...
Estou dançando junto a fogueira cercado de iguais em grandeza a exaltar-me por não mais precisar fazê-lo...
Tenho certezas agora... Eu sei e todos sabem...
Não mais me apego ao concreto e agora desfruto do nada que realmente somos...
Tragado pela euforia do apocalipse que já passou...
Sinto o infinito que me consome e me acalma...
Sinto a beleza da imperfeição dos dedos que apertam minha mão...
Os tambores soam em meus ouvidos tão belos quanto à perfeição...

Não há medo... O que deveríamos temer?
Não há ódio... Inexiste é o que precisa ser odiado.
Não há amor... Apesar de amá-los.
Não há tristezas... nem alegrias... Só existe paz... E liberdade enfim...

Sou Deus... Todos somos...


Por um estante...


... Sinto cheiro de vômito misturado com suor...
Meus olhos latejam como se mil farpas estivessem fincadas neles...
Minhas pernas parecem que nunca mais conseguirão erguer meu fraco corpo...
Finalmente levanto-me da vala em que estava a delirar durante dias...

... Dias esses que foram os melhores de toda minha vida!

Eis a Questão

E o mundo me pede para exercer minhas capacidades de animal racional altamente qualificado na selvageria do sistema normativo vigente. Tenho em mãos a possibilidade de aferir e por conseqüência ferir uma delicada engrenagem emocional de cunho quase incognoscível onde existem diversos fatores a que estou submetido. Vejo na minha situação atual de espectador a necessidade de deixar-me envolver e ser levado por essas vontades, vontades essas que tornar-me-ão desde logo não mais um mero observador, pois agora um participante assíduo sujeito a reações, inicialmente não danosas, no entanto, mais tarde, de represália. Em meio a essa ciência logo concluo que esse esquema traz a mim certas possibilidades de aferições caracterizadas preliminarmente de forma altamente prazerosa e antes de difícil concretização. Se não essa uma das minhas razões basilares para efetivar tal ambição. É preciso que seja dito que nessa frágil relação sentimental a ser modificada por minha ação trará como conseqüência incógnitas penalidades advindas de próximos direcionadas aos possíveis participantes, destarte também frisar que é verdadeira a assertiva de que não possuo capacidade de pré-dizer quais as dimensões de danos que estou sujeito a criar e a acariciar. Finalmente, tenho por finalidade sanar essa minha necessidade tão só existente no momento, porem, também me ponho à importância de proporcionar a culpabilidade de tais faculdades não somente a mim, pois, sei ser mútua tal necessidade. Sabendo que factuando o que pretendo vitimarei e a longo prazo serei vitimado; deixarei, também, de apreciar futuros vínculos desportivos e de pormenor possibilidade evolutiva em áreas diversas, por assim dizer.

Ou seja, pegar ou não pegar a mulher do meu amigo?

Quem tem o Fogo?

Assisto a massa vazia e cega tomada por suas iras iludidas e amores impuros.
Me pergunto se devo intervir. Procuro uma razão que me dê forças suficientes para tal.
Fico omisso vendo como a intolerância, a ganância, e a ignorância são belas trazendo consigo um apocalipse cada vez mais rápido e insípido.Vejo os grandes libertadores de minha época sendo engolidos por quimeras e dragões de suas próprias criações na busca de satisfação e poder.
Grande glória essa que não tem nem por que nem sentido de ser.
Invejo-os, pois esses mesmos não têm liberdade de escolher, queria ter a vocação para enxergar vêsgamente e fazer de meus xulos desejos realidade.
Mas acabo por me tornar mais um instrumento destorcido e que não se encaixa, o herói covarde, que se omite do dever que tem a fazer.
Ironicamente idiota sou preferindo tocar minha guitarra imaginável na solidão do meu quarto onde nem um vício pode atingir-me ( será que não?) ...
Pena e medo... Desgraçado acabo por não conseguir arrancá-los de dentro de min. Liberdade inexiste junto ao medo, e inerente a todos isso está, nunca conseguiremos ser realmente livres enquanto tivermos medo. Indigno-me com ódio em pouca escala, pois, se é para que o ódio exista... Que seja infinitamente e impessoalmente.

É com muito pesar que digo que deveríamos elevar nosso ódio contra nós mesmos até que conseguíssemos inseri-lo em uma das camadas da atmosfera. Onde, de lá, propagaríamos uma mensagem subliminar global impondo a todos a idéia de que necessariamente precisaríamos cometer Haraquiri depois de rezar antes de dormir e assim nos juntaríamos ao uno e infinito (se é que isso existe) curando nosso pequeno planeta do vírus que hoje de fato nós somos...E levantar meu punho e gritar por tudo que é correto, justo e verdadeiro contra iguais que em sua imensa ignorância levantariam o seus para proteger essa situação ridícula, patética e mentirosa em que nós nos encontramos e que insistimos em permanecer. Conseguiria, eu, finalmente, minha guerra "justo-sanct-ilumidada" e agora poderia tirar vidas vazias à-vontade.

Quem sabe?...
Quem sabe eu, como muitos outros, não tenha perdido sangue demais para poder perdoar.

E talvez em algum tempo minha pena transfigure-ser em ódio, e meu medo em coragem, tornando-me enfim o herói que todos deveríamos ser...

De Terno e Gravata

Não sei por quanto tempo vou ficar esperando o dia em que me sentirei confortável o suficiente para poder vestir o capote negro e as coloridas línguas de sogra penduricarilhadas no pescoço de uma forma agradável...
Talvez esse tipo de traje não represente muito para você, ou represente, (na verdade nem deveria) não sei; mas para mim esse tipo de veste tem um significado peculiar, é bem verdade que essa minha idéia, apesar de já bastante manjada, advêm de um receio que tenho de minha futura profissão (vou ser advogado, espero), mas é verdade, também, que essa peça detém certo poder. Pois, quando estamos lá, rijos firmes e metidos dentro daquelas mangas pesadas, abafadas e compridas todos te olham de uma forma diferente, te dão, preconceituosamente, por uma pessoa no mínimo inteligente e centrada, dona de um caráter louvável, no mínimo, no mínimo...
E no mais, te chamam de doutor até.
Preferiria deveras contribuir para a perpetuação de minha espécie vestindo somente sandália de dedo, bermuda e regata (ou quem sabe um tacape e uma pele de animal no lombo), e vos digo perpetuação da espécie por que é para isso que essas "roupas sociais" realmente servem. Não estou dizendo que homens vestidos de terno e gravata saem por ai embuchado meninas, mulheres e pessoas do sexo oposto (não que também não o possam fazer). O que estou querendo dizer é que essas vestes são a representação indumentária da vitória, da conquista, da aceitação, da positivação da moral e da ética popular, do ter, do poder em si, enfim, de tudo que nos trouxe até aqui; e usar terno e gravata seria uma forma de ostentar essa concretização. Exercer capacidades de nosso êxito nesta nossa "nova cadeia alimentar" é o que vamos fazer enquanto vestidos desconfortadamente deste modo.

Daí meu pé atrás...

Gosto de pensar na maior parte do tempo que não sou "correto", que não sou legal, digo, dentro dos ditames da lei, que não estou irremediavelmente do lado certo, este também irremediável lado favorável a evolução, esse lado do “bem”.
Pois, digo que já quis (e ainda quero) por várias vezes valer-me de uma forma a parte, diferente, não necessariamente especial, mas... Minha, e só.


Por outro lado, fico muito bem de terno e gravata. E quem não fica?

Venenífera Valete

Que a fera venha a mim... Viva e voraz.
Que embriague-me de verbosa vitae.
E que na enfadonha lamúria de meus olhos jorre o venenoso veludo.

Pois mais uma vida secou.

Prata da Casa

Cavaleiro marginal, príncipe guerreiro defensor do gol, herói anônimo das estradas desprovido de medo e segredos...
Não os deixe cantar outra canção quando tudo tiver que terminar em falsos desejos...
Inflexível é sua espada fincada na escolha do lado a estar, sem dúvidas e ingenuidades...
Mágico gozador de mentiras nos salve...
Sincero super-herói da categoria, bom e barato predador protetor do pesado dom da palavra positiva, sua presença nos motiva e incita a buscar sabedoria para dar razão a nossa desmedida ira...
Sereno em negra e justa fúria funk erguendo o punho em prol de nossa própria lei xavante, retirante, racional, revolucional...
Rapaz comum a cada um, ressuscitando dia após dia, um por um, para sarar seca sede sarará crioula qualquer da graça sem graça de cada dia...
Conquistará anistia, logrará alegria, fixará moradia...
Mostrará a sua prole que num mundo de ardil fantasia ainda há a possibilidade de uma concreta felicidade em meio toda essa bela, crua e verdadeira realidade...

A Graça é...

... Pular de meio fio em meio fio equilibrando-se como um bêbado para não cair no abismo de asfalto e realidade. Frio, duro e encravado de cabo a rabo por pedras polidas pontiagudas de aparência inofensiva e colorida que só esperam o momento certo para te morderem a carne. Tão próximo... Tão próximo que parece-me o infinito diante dos olhos. Esses mesmos olhos que teimam em mostrar-me ilusões. Ilusões forjadas. Quimeras deveras divertidas que fazem com que eu me torne um prisioneiro. Prisioneiro sou, na verdade, da vontade de enobrecer-me por elas existirem somente para min, contudo, continuo, agora a correr por paralelepípedos pintados de cal branco barrento fedorento, fraco e corroído pelas tantas idas e vindas a esquivar-me de demônios... demônios subordinados encapetados e emoldurados pelo meu vício, vício da sede, vício do sangue, vício da sede do sangue de meretrizes injustiçadas por juizes jurados que não juraram. Sempre equivocadamente corretos, como o ego, que no entanto, é justo, alienado e raptado por corações alheios desconhecidos mais bonitos que o meu. Que por sua vez, em vez de ater-se a amáveis paixões que o sufocariam apertariam e abraçariam tal qual o abraço da rosa, acaba por desperdiçar o seu sangue tão penoso e grosso, cheio de minha vida venosa vulgar a procura de razão na emoção. Procura essa que não tem fim ou finalidade, pois, tal razão, tenho certeza, não tem beleza, e como é de praxe no final a carne torna-se mártir, da vontade de sentir a realidade, puxando até o osso parte do couro do menino medroso maldoso, inventor desaventurado de desventuras para suas aventuras sem graça, graças à sutil capacidade de transformar mentira em poesia, sem hipocrisia, e dando o ar da graça para aqueles que como eu não tem muita graça...

E dando adeus a 6 bilhões de figurantes!



Quero roubar um banco! Mas, não sei como. Queria saber como é extorquir um símbolo de proteção do capital do estado só pra sentir o prazer de estar violando aquela coisa. Penso que seja uma sensação gloriosa! Eu e uma loira com grandes olhos claros dona de um rosto impecável sentada ao meu lado com muito pouca roupa a voar tal qual seus cabelos pela força do vento de mais ou menos 120 km/h que meu possante Maverick vermelho faria. Junto com umas três ou quatro malas abarrotadas de dinheiro de velhinhas e pessoas deficientes no banco traseiro.
Não posso me esquecer de descrever o horizonte infinito desértico e trêmulo a minha frente, quente e pronto para ser desvendado. Tendo também de ser necessariamente intrínseco de que eu precise gastar todo o tambor da minha mágnum prateada em pessoas feias e mais burras do que eu... Nossa como isso me faria bem! Talvez quem sabe,Eu , também não possa estar sendo perseguido de perto por dois ou três carros de polícia, um para cada mala de dinheiro. Iria ser bastante excitante ver os glúteos salientes de minha loira quando ela se virasse e começasse a alvejar os policiais com a carabina cromada e nela iam reluzir as inscrições que o próprio diabo fez com sua unha mindinha do seu dedo mindinho... Dizendo: Only For Man.

Daí, iria haver uma explosão do caralho... BOOM! E eu sairia igual ao pistoleiro Banderas de mãos dadas com a loira e com as malas, coberto pela sombra do cogumelo de fogo, meu blazer branco sujo e entreaberto, o andar fatal das longas pernas da loira, nossos olhares se cruzando num beijo final!

Éééé.. Huhuuuuuuuuu... Palmas para min. Isso! Eu sou "Ô" foda, o maior, o melhor...

Er... Ops, Mas peraí...
Eu sô preto porra! E caras pretos nunca são personagens principais desses filmes (tirando o Wesley é claro!). Alem do fato de que o público em geral não gosta de casais inter-raciais como protagonistas principais.

É! Fazer o que se eu tenho uns 500 anos de genética perfeita para chutar uma bola de couro pra dentro de uma rede em vez de um queixo grande saliente e másculo que me forneça sexo e inveja alheia.

Tenho mais é que agradecer aos meus antepassados (somente os pretos!) que sofreram para que hoje eu possa estudar de gratis e deixar meus frívolos desejos mundanos de lado, dando orgulho aos meus pais que me forneceram com muito esforço uma boa educação e muitos anos de comida, e teto, e roupas, e etc., etc., etc...

Se puder, por favor, esqueça que você leu isso...

Ela


Passava tardes com ela quando pequeno.
Minha mãe gostava, sua companhia era diferente da companhia dos outros meninos da minha idade que minha mãe sabia que trariam má influencia para o seu primeiro pequeno garoto prodígio.
E passavam-se inúmeras tardes, nós dois juntos, sozinhos, eu e ela, em cima do batente da antiga casinha de cachorro, a olhar a rua, a olhar o tempo nos olhar.
Era como se aquele batente fosse só meu e dela, somente cabíamos nós dois lá.
Ela era fria, sempre me abraçava por traz, com a boca em minha nuca a sussurrar.
Me deixava quieto em seus braços gelados e seguros que me passavam calma.
Eu gostava, de certa forma, era ignorante e quando se é assim as coisas se tornam mais fáceis.
Não que eu me entregase, não era isso.
Era na verdade como uma parceria, como a uma amizade, eu acho.
É! Pode-se disser que sim, éramos amigos, não chegávamos a conversar, no entanto, éramos amigos.
Nós nos sentíamos satisfeitos um com a companhia do outro.
Ainda não existiam segredos e também não existiriam.
Não tínhamos vergonha, nem teríamos.
Também não teríamos raiva, também não teríamos inveja, vontade de se provar, medo, ou compaixão, ou saudade... Não teríamos nada disso.
Mas as coisas às vezes acabam por mudar e nem sempre é para melhor.
Agora não consigo mais ficar no mesmo aposento que ela.
Fujo, tento me esconder por de trás de outras pessoas para que não venha me ver.
Não existe mais o pequeno batente da antiga casinha de cachorro pra nós dois ficarmos lá, juntos, só eu e ela, olhando o tempo nos olhar.Agora é mais fria e gelada do que antigamente, agora me aperta forte com suas unhas e sussurra em meus ouvidos meus próprios erros pra mim mesmo.
Sem pena, sem dó.
E ela gosta disso, gosta de me ver chorar, faz questão até.
Me caça pelos cantos e não me deixa esquecer da pessoa que me tornei, dos erros que cometi, das chances que desperdicei, das pessoas que deixei infelizes, inacabadas, incompletas.
Hoje me dei de cara novamente com ela, nós dois não sorrimos um pro outro, não existe razão para tal, pois sabemos tudo sobre mim e já não existe mais graça.
Antigamente gostava dela, antes conseguia olhar nos seus olhos.
Exatamente como fazíamos com o tempo, juntos, sozinhos, somente nós dois e o tempo.
Queria poder fazer as pazes com ela e não sentir mais seu braço frio me cobrir a noite fazendo minha espinha gelar e acabar por ver meu travesseiro ao lado abaixar, tal qual fosse uma cabeça a pousar nele.
Acabo fechando meus olhos e dizendo baixinho para minha companheira indesejável:
Vem, solidão...


Mac`Brazilian Dream

Futebol, Carnaval, Dogmas Religiosos, Exploração e Dinheiro...
Muito Dinheiro.

Misture tudo isso aos restos da ultima panela do fim do mês e mexa swingadamente. Junto com uma porção generosa de ignorância, outra de uma escancarada manipulação e mais uma depravada pitada de corrupção generalizada. Temperadas todas num viscoso molho parco com um gosto sanguinolento peculiar de miséria, fé e suor.

Veja... Homens mulheres e crianças, mulatos e mulatas, domesticas e pedreiros, sujos até aos tornozelos, amontoados em cubículos a voltar sua atenção para uma minúscula televisãozinha mal sintonizada, de onde, magicamente, surgem deuses e deusas de uma outra cultura num Olimpo platônico gozando e esporrando maravilhas inalcançáveis.
Enquanto isso, ali do lado de fora, escravocráticos seres de uniforme negro tramam e programam incognocivelmente a perene perpetuação da fria corrida celestial do concreto.
Quem conseguir arranhar o céu primeiro ganha! Mas sem cair é claro.

Porque esses mesmos não têm a mínima vergonha de dizer que o capital é de todos, e se é de todo mundo não é de niguem, e se não é de ninguém, é meu... E o que é meu ninguem tasca!
Prostitutas baratas ainda são nossas cidades inteiras, cartões postais suicidas de pernas abertas à espera da pervertida penetração globalizada fulminante e faminta de nativa ingênua inocência monetária.

Então vamos lá jovem velho silvícola proletario sonhador! Diz o revolto ao decer o morro com seu boné vermelho sangue segurando enxada, foice e fuzil. Para logo em seguida ver-se ridicularizado por seu próprio povo, pois este não sabe dizer quem é o novo candidato a Ronaldinho, Carla Peres ou Edir Macedo da ultima semana.
incrivel realmente é ver como o valor da cor de nosso suor tornou-se tão fraudulentamente opaco que nem mais traz indignação ao ser roubado bem debaixo de nossas fuças!

Ah, companheiro, mas não me diga que esqueceu onde foi parar aquele já tão conhecido princípio pétreo do "jeitinho" nacional? Sabes que não podes me colocar no mesmo lugar que esse marginal. Minha cela tem de ser de tipo especial!

Por que não nos mentem em tupi guarani? Talvez por que Deus seja cristão. O deus do homem branco será o grande patrocinador dos nossos fantasmas partidários progressistas engolidores de cabeças periféricas. Que esse ser altíssimo inominável faça os erros passados do país desaparecer para que sem hipocrisia novos possam florescer.
E solo mais apropriado impossível! Já diziam que aqui tudo se dá... desde magnatas banqueiros canibais até passivos cabeças chatas multi-étinicos.

Uma burocrática engrenagem massificatória inquebrável de pão e circo se impõe. Dentro e fora, arapuca sem volta, todos estão surdos, cegos e mudos de frente para o muro esperando ver a mancha vermelha saltar de seus olhos, pois a ditadura ainda não acabou, apenas mudaram-se as peles e os lobos, mas os cordeiros, esses ainda continuam os mesmos.

Agora é preciso aderir voluntariamente a esquemas de lavagem cerebral, programas de recondicionamento comportamental, cursos obrigatórios de limitação intelectual.
A individualização é o mal e deverá ser erradicada, e nossa fauna e flora queimadas e todas as outras formas de vida que não derem lucro liquido incessante.

Consolidaremos como regras norteadoras de nossas terras de vera cruz a estrangeira expropriação da alma, o furto famélico doloso da vontade coletiva e uma mais justa prevaricação do conforto e da possibilidade de ascensão social.

E por fim, no final do dia...

Comeremos satisfeitos da carne industrializada dos que deitarem-se Galdinamente para tirar um fatigado cochilo, pois estes serão os primeiros vitimados pelo fogo da ordem e do progresso desta nação.