terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Morto Amor



Era um homem bem apessoado, de meia idade, tinha por volta dos seus trinta e poucos, de semblante sério, talvez adquirido em razão de seus muitos anos de farda, era militar; de olhar penetrante e testa larga, mostrava-se sempre de acordo com o que se entende socialmente por ético e direito. Cultivava com certa vaidade um bigode fino, milimetricamente bem talhado, herdado de seu pai ao qual inconfessadamente nutria ainda grande apreço. Dias atras tinha-o perdido, o seu pai, em razão de um antigo câncer de pulmão. Homem de caráter firme e rigidez ideológica, lembrava.
O evento era o velório deste, lá estavam só alguns poucos familiares, sua mãe já morrera a muito e por ser filho único então chamou apenas amigos mais próximos, algum tio distante e talvez um vizinho. O corpo do velho estava estirado num caixão preto como de costume, coberto por flores brancas e uma bandeira de sua nação, visto ter sido ele também militar em sua mocidade, isso não poderia faltar. Não chorou ao ver seu velho pai lá sem vida a dormir o sono sem fim, isso mais lhe deu algum tipo estranho de satisfação, parecia que até tinha uma ponta de alívio no fundo da alma, entretanto, não deixou transparecer tal inconveniente emoção a qualquer convidado da fúnebre cerimônia. Não sabia bem o porquê, mas relembrou seus tempos de menino quando seu pai o repreendia à palmatória sempre que o encontrava fazendo algum tipo de idiotice infantil.
Dias seguintes, se seguiu o enterro, fez questão de gastar mais um pouco de umas economias que guardara para outro luxo qualquer e comprou um "mausoléu razoável" para seu pai morto. Sentiu-se obrigado a fazê-lo por ainda ver-se na necessidade de honrar com a memória correcta que deixou permeada em sua lembrança. Não podia deixar isso passar em branco, o seu velho pai deveria dormir para sempre em um aposento decente, pensou consigo mesmo. Talvez desejasse vir visitá-lo algumas vezes e não queria ver apenas um pedaço grosso de pedra riscado no chão.
Na semana seguinte não conseguiu dormir direito, sempre que deitava a cabeça no travesseiro remotas memórias o tempestuavam o sono; eram flashes de sua infância onde seu pai sempre o consolava e afagava entre os seus braços.
Sonhava com tais memórias, lá estava sempre o seu pai presente, cuidando e dando-lhe calor paternal. Passou a semana seguinte com vontade de ir vê-lo.
Os lapsos de memória passaram a ser mais freqüentes, todas as vezes que se encontrava a devanear estava a lembrar das conversas com o seu pai, pegou-se umas vezes a deixar cair singelas lágrimas ao lembrar com um pouco mais de clareza dessas conversas cheias de amor que tinham. O mais estranho era que parecia ter se esquecido de tais lembranças, e com a repentina morte de alguma forma elas voltaram à tona. Agora as lembranças que tinha de seu pai não eram somente aquelas em que ele se sentia repreendido ou de cega obediência disciplinada, eram de forte amor e compadecência mescladas com carinho e amizade. No primeiro domingo depois do enterro foi visitar o pai no cemitério. Não era de seu costume ir para tal local em razão de nunca ter tido nem um parente próximo morto, mas lá estava, e com inflamada vontade de ver seu velho pai para dar-lhe mais um ultimo adeus. O mausoléu era grande, de pedras de mármore azul escuro, bastante imponente, uma minúscula capela na verdade.
Lá dentro se encontrou de frente para o caixão do seu tão amado patriarca. Neste instante sentiu o peso do fato de não poder nunca mais tê-lo consigo ao lado, de poder abraçá-lo, de chorar seus medos de criança nos seus braços e ter mais uma ultima vez uma daquelas tão amáveis conversas de pai e filho que lembrava incessantemente. Então, tomado por uma forte vontade de sentir mais uma vez o afago da mão amiga do pai resolveu abrir o caixão. Tirou as trancas que o fechavam, com o rosto em prantos, respirou fundo e abriu-o.
Lá estava o corpo de seu velho pai, morto, sem vida, com a pele cadavericamente enrugada e desprovida de cor, de aparência já quase repugnante. Quando o viu naquele macabro estado pôi-se de joelhos na sua frente, baixou a cabeça sobre o peito de seu cadáver e deixou as lagrima molharem seu rosto e escorrem até o negro terno do pai morto. Chorava e apertava forte sua fina mão sem mais nenhum pulso vital, tinha plena certeza de que poderia ter sido um filho melhor, talvez dado mais atenção quando estava na ultima velhice, queria recompensá-lo de alguma forma, mas já era tarde. O seu querido pai estava morto a sua frente e nada poderia mudar tal fardo.
Esse sentimento de arrependimento o fez querer abraçá-lo, beijá-lo no rosto como quando fazia na época de menino. Pois não se conteve e o fez, estava quase que em cima do corpo do pai a abraçá-lo, a beijá-lo no rosto. Olhava para os olhos fechados dele que estavam bem ali na sua frente, parecia que podia sentir seu cheiro e não o do impregnante formol que se alojava naquele sinistro mausoléu.
Beijou-o na boca, não sabia bem o que estava fazendo, mas agora que seus lábios quentes tocavam os dele frios tudo fazia sentido.
Passou a exictar-se de tal forma como nunca antes havia acontecido, estava em cima do caixão do morto velho pai a amá-lo como um homem ama uma mulher. Pôi-se a despir-se de todo, não pensava no que fazia, apenas fazia. Já nu puxou a ossuda mão do pai morto para seu genital e o fez masturbar-lhe freneticamente, sentia um prazer abissal no bizarro ato que estava concretizando.
Montou o cadáver do pai, arriou-lhe as roupas de baixo e inesperadamente tentava penetrá-lo. Quando finalmente conseguiu violá-lo introduzindo o pênis dentro do reto estava em total tranze sexual, acometeu-se de um prazer quase que divino de estar ali, dentro de seu pai morto, a ejacular.
Quando terminou o que fizera parecia que tinha realizado o ato mais grandioso da sua vida, notou-se numa plenitude tal qual a de ter gerado um novo ser. Era agora um homem realizado. Nos anos que se passaram, assiduamente, tornou a visitar o pai, encontrou no ato de fazer amor com o seu cadáver o sentido supremo de sua vida. Amava-o morto e morto amava-o.

Um comentário:

Unknown disse...

Nossa...
que macabro!

Eu fui involuntariamente fixado na história, até começar as monstrisses!

Cara...Que história louca!

Criatividade não lhe falta!

Ta massa teu blog, Parabéns!

abração!