segunda-feira, 11 de agosto de 2008

No Banco de Trás do Carro

Morreu do meu lado, a bala saio por de traz da cabeça, pela nuca, um pouco acima da primeira vértebra da coluna e se perdeu no enchimento do banco do carro.

O buraco era enorme, quase um palmo de mão, aberta, tava aberta a cabeça dele, tinha fumaça saindo.

Buraco fundo, negro e vermelho, o sangue era grosso e escorria por todo o corpo, descendo devagar e viscoso.

Estourou e espirrou na minha cara, na minha boca, nos meus olhos, e na camisa inteira.

Dezenas, ou quem sabe centenas de segundos parado, estatizado, de olhos fechados e franzindo todos os músculos possíveis da testa.

Zunindo, só escuto o mundo zunir, falam, me dirigem palavras que não consigo distingui-las, mal concigo perceber o nome inpronunciável que escuto.

O grosso cheiro de sangue misturado com a pólvora que empreguinou aquele banco de traz de carro faziam minha mucosa nasal latejar de tanto doer.

Mais séculos de segundos paralisado e acabo por abrir os olhos, só estamos eu e o morto, estou só, vivo !

Sinto o peso do alívio de não ter que olhar mais aquele cano cromado apontar para o meio de meus olhos pela janela do carro.

Empurro, para tira-lo de cima de min, o meu ex-colega e o corpo dele debruça-se sem vida e bate com a cabeça na parte de traz do banco a sua frente.

A poça de sangue é grande e mela nossas calças misturando-se com minha urina no assoalho do banco.

Vomito de supetão, sinto o gosto dos meus sucos gástricos misturados com pedaços de pastel de queijo subindo por minha traquéia e jorrando por minha boca a fora.

Vomito em mim, vomito nele, vomito pra fora do carro, pela janela da direita, vomito muito e depois para.

Tento pensar, me mexo, quero sair dali, faço esforço para tirar meu corpo daquela situação, empurro a porta de mal-jeito, ela reluta mas cede e abre, saio, dou alguns passos, levo as mãos a cabeça por instinto.

Agacho pela porta e olho novamente pra a ferida que aquela magnum PT 40 fez na cabeça do meu ex-parceiro de tantas paradas, vejo a potência da ferida novamente.

Oh! Deus !

De costas pro carro, apoio as mãos nos joelhos, coloco a cabeça entre as pernas e vomito mais uma vez, quase me canso de vomitar, dessa vez só sai aquele liquido meio azedo e amarelado.

Bato a porta com ira, tento pensar no que acabou de acontecer, noto minha roupa suja de sangue misturado com vomito misturado com mijo, tenho nojo, tento limpar, não dá...

Solto um palavrão sem querer ao lembrar do nome que eles falaram;

Puta que pario!!!

me apresso, corro sem pensar... preciso avisar Três santos !!

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