sexta-feira, 8 de agosto de 2008

A Graça é...

... Pular de meio fio em meio fio equilibrando-se como um bêbado para não cair no abismo de asfalto e realidade. Frio, duro e encravado de cabo a rabo por pedras polidas pontiagudas de aparência inofensiva e colorida que só esperam o momento certo para te morderem a carne. Tão próximo... Tão próximo que parece-me o infinito diante dos olhos. Esses mesmos olhos que teimam em mostrar-me ilusões. Ilusões forjadas. Quimeras deveras divertidas que fazem com que eu me torne um prisioneiro. Prisioneiro sou, na verdade, da vontade de enobrecer-me por elas existirem somente para min, contudo, continuo, agora a correr por paralelepípedos pintados de cal branco barrento fedorento, fraco e corroído pelas tantas idas e vindas a esquivar-me de demônios... demônios subordinados encapetados e emoldurados pelo meu vício, vício da sede, vício do sangue, vício da sede do sangue de meretrizes injustiçadas por juizes jurados que não juraram. Sempre equivocadamente corretos, como o ego, que no entanto, é justo, alienado e raptado por corações alheios desconhecidos mais bonitos que o meu. Que por sua vez, em vez de ater-se a amáveis paixões que o sufocariam apertariam e abraçariam tal qual o abraço da rosa, acaba por desperdiçar o seu sangue tão penoso e grosso, cheio de minha vida venosa vulgar a procura de razão na emoção. Procura essa que não tem fim ou finalidade, pois, tal razão, tenho certeza, não tem beleza, e como é de praxe no final a carne torna-se mártir, da vontade de sentir a realidade, puxando até o osso parte do couro do menino medroso maldoso, inventor desaventurado de desventuras para suas aventuras sem graça, graças à sutil capacidade de transformar mentira em poesia, sem hipocrisia, e dando o ar da graça para aqueles que como eu não tem muita graça...

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