sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Ela


Passava tardes com ela quando pequeno.
Minha mãe gostava, sua companhia era diferente da companhia dos outros meninos da minha idade que minha mãe sabia que trariam má influencia para o seu primeiro pequeno garoto prodígio.
E passavam-se inúmeras tardes, nós dois juntos, sozinhos, eu e ela, em cima do batente da antiga casinha de cachorro, a olhar a rua, a olhar o tempo nos olhar.
Era como se aquele batente fosse só meu e dela, somente cabíamos nós dois lá.
Ela era fria, sempre me abraçava por traz, com a boca em minha nuca a sussurrar.
Me deixava quieto em seus braços gelados e seguros que me passavam calma.
Eu gostava, de certa forma, era ignorante e quando se é assim as coisas se tornam mais fáceis.
Não que eu me entregase, não era isso.
Era na verdade como uma parceria, como a uma amizade, eu acho.
É! Pode-se disser que sim, éramos amigos, não chegávamos a conversar, no entanto, éramos amigos.
Nós nos sentíamos satisfeitos um com a companhia do outro.
Ainda não existiam segredos e também não existiriam.
Não tínhamos vergonha, nem teríamos.
Também não teríamos raiva, também não teríamos inveja, vontade de se provar, medo, ou compaixão, ou saudade... Não teríamos nada disso.
Mas as coisas às vezes acabam por mudar e nem sempre é para melhor.
Agora não consigo mais ficar no mesmo aposento que ela.
Fujo, tento me esconder por de trás de outras pessoas para que não venha me ver.
Não existe mais o pequeno batente da antiga casinha de cachorro pra nós dois ficarmos lá, juntos, só eu e ela, olhando o tempo nos olhar.Agora é mais fria e gelada do que antigamente, agora me aperta forte com suas unhas e sussurra em meus ouvidos meus próprios erros pra mim mesmo.
Sem pena, sem dó.
E ela gosta disso, gosta de me ver chorar, faz questão até.
Me caça pelos cantos e não me deixa esquecer da pessoa que me tornei, dos erros que cometi, das chances que desperdicei, das pessoas que deixei infelizes, inacabadas, incompletas.
Hoje me dei de cara novamente com ela, nós dois não sorrimos um pro outro, não existe razão para tal, pois sabemos tudo sobre mim e já não existe mais graça.
Antigamente gostava dela, antes conseguia olhar nos seus olhos.
Exatamente como fazíamos com o tempo, juntos, sozinhos, somente nós dois e o tempo.
Queria poder fazer as pazes com ela e não sentir mais seu braço frio me cobrir a noite fazendo minha espinha gelar e acabar por ver meu travesseiro ao lado abaixar, tal qual fosse uma cabeça a pousar nele.
Acabo fechando meus olhos e dizendo baixinho para minha companheira indesejável:
Vem, solidão...


3 comentários:

Unknown disse...

Eu Particularmente...adoroo uma boa leitura,um bom livro, gostei muito dessa leituraa "ELA"...espero que por aki por a net existam escritores bom igual a você..parabens..ta muito ben traduzido a intenção que vocÊ quer chegar..!

Manuella disse...

Lindo... se eu já te adimirava, agora mais ainda, vc é muito inteligente, adorei o texto, é muiot forte tbm, acaba envolvendo que o lê não é mesmo? rs... Parabéns!!!

Anônimo disse...

NOSSA FRANCI PARABÉNS MUITO LINDO....BJOSS SE CUIDA .